sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Construir a história - 1

Era uma vez um menino chamado Joaquim. Pertencia ao grupo daqueles meninos que não tinham acesso fácil ao mundo da internet mas gostava muito de ouvir rádio. Em pequeno brincava nas ruas onde nasceu e sonhava poder um dia ser um cientista de renome... Mas as coisas não se adivinhavam fáceis. No entanto, foi crescendo ao sabor de um sonho perfeito, ignorando os obstáculos de uma dura realidade. E tanto os ignorou e ignorou e ignorou que um dia, catrapumba!, tropeçou neles. E espalhou-se ao comprido. Mas...como há males que vêm por bem, o espalhanço valeu-lhe uma viagem de ambulância do INEM (que demorou 8 horas a chegar à terrinha do Joaquim) à vila mais próxima e um novo horizonte se abriu em frente dele! Sim, um novo horizonte de facto: era a terra do JoDu! Aqui, pessoas aparentemente normais faziam coisas muito estranhas...andavam de manga curta quando estava frio, no Inverno, e camisola de gola alta no pico do calor, no Verão; corriam de um lado para o outro, sentadas em cima do pau de uma vassoura, num frenesim desgraçado. Até viu um homem morder um cão!! Uma imagem invulgar...mas a história parecia familiar...(um primo da namorada do tio da madrinha da amiga do amigo da mãe do sobrinho da prima...enfim...qualquer coisa...)... Certo dia, António António (sim, o 1º nome é igual ao último) decidiu comer 3 iogurtes: um de morango, um de abacaxi e outro de bacalhau. Após esta refeição a sua fome ficou saciada. No entanto, e passado cerca de 8h, lá se encontrava o nosso jovem na casa de banho, onde permaneceu durante 3 horas seguidas. Concluiu António, que não se mistura peixe com produtos lácteos! Foi uma lição dura mas deixou um ensinamento claro na cabeça de António: "Podia ter comido apenas um iogurte, mas fui lambareiro e Deus castigou-me!" Sim, porque Deus tem duas formas de castigar: uma é mandar pessoas para o calor ardente do inferno, a outra é através da mistura de iogurtes com peixe cuja conserva é feita em sal. O António António sentiu-se mal por ter escolhido o iogurte de abacaxi (que decerto estaria estragado - "Isso é que me fez mal!!!"), e pesou-lhe a consciência...Decidiu confessar o seu pecado ao completo estranho JOAQUIM que vagueava perdido nesta nova terreola, porque quando chegou
de ambulância do INEM às urgências do centro de saúde desta nova terreola, disseram-lhe que ele não podia ser atendido porque não fazia parte da sua área de residência. António António estava igualmente admirado com aquela peculiar vila e contou ao Quim - agora já o tratava por Quim - o que lhe aconteceu na noite anterior... Sim... o TóTó (o nome que Quim rapidamente lhe atribuiu...nem se percebe bem porquê...) também não residia ali...e teve aquele problema com os iogurtes mas ninguém o ajudou... Mas ele tinha contactos com gente influente e tratou de rapidamente denunciar a situação! Não podia admitir que um TóTó como ele não fosse tratado como merece... "Mas onde estamos nós?"- perguntou Quim ao TóTó. Suspeitavam que algo estava errado. Mas o que eles não sonhavam é que, tanto TóTó quando estava na sanita como o Quim quando caiu, tinham feito alguma força...e... no momento em que cerraram os olhos...fizeram hhhmmmm..e...PUMBA!... atravessaram um buraco de Verme! Estavam, portanto, num MUNDO PARALELO!!! Paralelo mas assimétrico... devido a um erro no cálculo do gradiente da primitiva integrada no seno do ângulo oposto ao quociente da raíz de pi... E eis que todas as certezas que tinham acerca do mundo desabaram. Tinham mergulhado numa profunda dúvida existencial. "Mas onde estamos nós afinal? ", perguntava Tótó, muito aflito. Aquela pequena vila seria uma realidade ou um sonho? Como acordar? Tudo isto fascinou o nosso Quim. Tinha descoberto o seu objecto científico: "É isso mesmo, Tótó, vou descobrir a fómula química do remédio que a Alice do País das Maravilhas tomou, porque tenho a certeza que foi essa mesmo que estava contida no iogurte que comeste e na lama que bebi quando caí! Só que em vez de encontrar a porta, uma poção mágica para beber e uma chave, os 2 compinchas encontraram um parafuso, 2 folhas de couve lombarda já meio rasgadas e a folha do jornal Público onde se podia ler "Carlos Silvino diz que foi obrigado a mentir para suportar as acusações do processo Casa Pia"... 2Hum...será que a FCT me pode financiar neste projecto para que eu possa encontrar os elementos para sair daqui?"-disse Joaquim pensativo. "Bem...ao menos não ficamos sem jantar...podemos sempre queimar as folhas do jornal, e cozer as 2 folhas de couve...se deitar à mistura um parafuso...temos...SOPA DO PARAFUSO!!!..."-diz o prático TóTó.
E viveram felizes para sempre ;) Mas não, não viveram felizes para sempre... A FCT não financiou o projecto e, em consequência de tão profunda desilusão, o pobre Joaquim suicidou-se. Ó melhor, ía-se suicidando... por obra do acaso (ou não!) a
ambulância do INEM, que estava na sua viagem de retorno, tinha a bordo uma psicóloga com vários anos de experiência, a trabalhar em regime de voluntariado, que rapidamente interveio. Será que o envio imediato de auxílio foi "orquestrado" por alguém da zona, com o intuito de evitar que uma situação daquelas trouxesse "investigações" ao local...? Tudo era suspeito. Uma ambulância no sítio certo à hora certa, com uma psicóloga pronta para ajudar, enquanto horas antes no hospital ninguém lhes deu o mínimo apoio! Suspeito...MAS... Aquele olhar profundo, um cheiro a perfume de valquírias, uma beleza estonteante e simpatia de se oferecer para dar apoio durante a longa noite que se avizinhava, fez Quim pensar: "Que mulher do outro mundo!!".... literalmente.... Cá para mim são efeitos da misteriosa caixa da isiorama!!!!! "Humm...talvez..."-pensou TóTó, que nem sequer sabe o que isso é. "Em ciência temos de considerar todas as hipóteses..."-prosseguiu ele nos seus intrincados pensamentos. Eu cá não confio em psicólogas... muito menos de outro mundo (literalmente!...xbis)...." -ia TóTó pensando enquanto misteriosamente ia adormecendo com o cheiro das valquírias, e giranuvens daquela área...e ouvia um som de harpa e gaita-de-foles com flauta transversal. Afinal, a Psicóloga era a Joanna Newsom. Vinda de outro mundo, como As milhões de outras [psicólogas] como ela que vêm de outro mundo – o chamado curso de Psicologia - e que chegam a este percebendo tarde de mais que aqui não há lugar para elas. Mas eis que há! há sim, desde que desenvolvam outros talentos, como tocar harpa ou fazer programas no Presentation. Mas para o Quim nada disso interessava. Se era psicóloga, se aplicava WISCs, ou se tocava harpa, nada. Nem lhe interessava o TóTó que entretanto perdera na... mesma ambulância?! A Joanna era, efectivamente, brilhante. Rapidamente se apercebeu do surto psicótico do Quimzinho. Seria Quim ou Tótó? Qual a sua verdadeira identidade? A identidade em si não era a confusão... confusão era qual dos dois é que não parava de olhar para Joanna...Quando se aperceberam estavam numa sala a ser testados com o EyeTracker... "Somos Cobaias!... mas ao menos poderei esclarecer as minhas dúvidas.."-pensou TóTó. Quim soltou-se uns milisegundos do transe em que se encontrava e pareceu ter visto um amigo de infância...mas!!!!Seria mesmo o Toby?!?! No escuro, percebeu que era o EyeToby que tinha uns olhitos parecidos com o seu amigo. Mas o EyeToby era um cola, já não se lembrava disto dos tempos da escolinha. Caramba, é que não desviava o olhar! Apercebeu-se que Joanna não parava de tirar notas...."OCD?"...?!?!?!.."ela estaria a questionar-se sobre o quê? Não Joanna O.DVD é melhor..."....Quim sentia-se perseguido, examinado..."ninguém está a olhar pra mim... Ninguém... Ninguém ...NINguém... NINGuém...NINGUém... NINGUÉm...NINGUÉM!!!!!"... e o medo apoderou-se dele... Teve tanto medo que teve outro episódio como o dos iogurtes, mas desta feita sem chegar à casa-de-banho... Mas felizmente que há uma Nossa Senhora da Limpeza! Que se demitiu! ("Sou Nossa Senhora mas não sou santa! Os cientistas trazem as cobaias, que se entendam com elas!" - disse ela em prantos ao sindicato das Senhoras da Limpeza.) Nisto, lembraram-se das vassouras voadoras! Sorrateiros, foram às coisas das Nossas Senhoras Da Limpeza e roubaram-lhes as vassouras. Voaram até ao ponto onde tiveram o primeiro momento de lucidez naquela vila e... PUFFF...reentraram no buraco de Verme em sentido contrário e voltaram ao nosso Universo. Perceberam que a ciência é um coisa mesmo horrorosa e que até dá cólicas! Desistiram de ser cientistas e viveram sempre até morrerem. Durante a sua longa vida fizeram filhos. E como quem tem filhos, tem cadilhos...não se livraram dos problemas. (seriam eles coelhos?!) Coelhos era o que eles criavam para dar de comer a tantos filhos. Tinham uma quinta e a quinta tinha um cão. O cão era uma mistura de caniche com rotweiller...e era muito, muito perigoso! Era o Pitucho e comia-lhes os coelhos! E as crianças tiveram de se tornar veggies...e, ficaram com défices proteicos...

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